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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Memória discursiva: A música Alegria, Alegria, de autoria de Caetano Veloso, sobre liberdade, é um dos marcos iniciais do movimento tropicalista da década de 1960. Datada de 1967, Alegria, Alegria, a canção modernista foi apresentada no Festival da Record em disputa pelo “Berimbau de Ouro”. 
Embora seja intitulada de Alegria, Alegria, sua letra nada tem de alegria, apenas reflete a repressão do período militar no Brasil, ou melhor, os “anos de chumbo”. De tão potente, a música de Caetano Veloso está incorporada na mente e na história do povo brasileiro, pois a marcha leve e alegre, com letra caleidoscópica e libertária, tem força nas palavras que a compõem. 
Entretanto, ao apresentá-la ao público, Caetano Veloso recebeu vaias (até porque fez a apresentação com os argentinos, Beat Boys). A gritaria foi tão infernal que nacionalistas o chamaram de traidor e oportunista. O talento e a performao nce de Caetano Veloso, aos poucos, ganhou o público e transformou as vaias em aplausos, mas ficou somente com o quarto lugar do festival.
Alegria, alegria é uma obra famosa e muito lembrada, é, pelo menos a mais emblemática do período militar do Brasil. Por esta e outras canções revolucionárias que usaram da metáfora para burlar o regime militar, Caetano Veloso foi o grande divulgador deste período de grande revolução popular e de tanta inquietação cultural.
Estrutura do texto: Em sua estrutura textual, Alegria, Alegria é simples, principalmente se comparada a outras de Caetano Veloso, utiliza basicamente elementos do Modernismo Brasileiro, da contra-cultura, da ironia, rebeldia, anarquismo e humor ou terror anárquico. Para salientar que a cultura importada era alienante, Caetano usa palavras como Brigitte Bardot, Cardinales  (Claudia Cardinale) e Coca-Cola (maior símbolo do império norte-americano que financiava os exércitos em toda a América Latina).
Pelo fato de ser uma canção escrita no período tropicalista, Alegria, Alegria tem nas entrelinhas uma crítica à esquerda intelectualizada, a negação a qualquer forma de censura, uma denúncia da sedução dos meios de comunicação de massa e um retrato direto da realidade urbana e industrial.
De acordo com o poeta, ensaísta, professor e tradutor brasileiro Décio Pignatari, a letra possui uma estrutura cinematográfica, trata-se de uma "letra-câmera-na-mão", citando o mote do Cinema Novo. Nesta canção há intertextualidade com a canção Para não dizer que não falei das flores e com uma pequena citação (modificada) do livro As Palavras, de Jean-Paul Sartre: "nada nos bolsos e nada nas mãos", que ficou, "nada no bolso ou nas mãos".
Marcadores da narrativa e da oralidade: A presença de muitas vírgulas na canção segue o ritmo da marcha, ou seja, há uma ebulição de ideias e ações acontecendo concomitantemente, por tanto não há abertura para pontos finais (que fecham estas ideias), mas apenas para as vírgulas. As vírgulas passam a ideia de aglutinação, como se representassem a pólvora, tão presente nas ruas neste período.
Inicialmente, o verbo caminhar está no gerúndio, o que transmite a ideia de que este caminhar é contínuo e que nada será capaz de interrompê-lo, mesmo que lhe falte uma identidade e as impunidades dos crimes brasileiros permaneçam. Logo, o verbo está no presente: (eu) vou, (me) enche, (ela) pensa.
Da instância lexical: Os versos “Caminhando contra o vento” e “em Cardinales bonitas” têm o valor semântico da expressão popular “nadando contra a corrente”, com o significado de ser e manter-se contra. Ao considerar o período, este se refere ao lutar contra a Ditadura Militar.
Eixo paradigmático da canção: A luta pelos ideais ganham mais força ao colocar cada ação na primeira pessoa do singular: EU, estando este oculto, como em “Caminhando contra o vento”, ou quando este sujeito é simples, como nos últimos versos das estrofes: “Eu vou”. No contexto do momento histórico vivido pelo autor na época do Regime Militar, a expressão “caminhando contra o vento” vem reforçar a idéia central do texto: ser do contra, lutar contra as forças armadas pelo regime ditatorial, promover a união da população contra o governo imposto de forma indireta e arbitrária. Idéia corroborada pelo descumprimento das regras gramaticais da língua padrão, como no exemplo: “Me enche de alegria...”, em que a frase é iniciada pelo pronome oblíquo ME.
Métrica: Tomando como exemplo a primeira estrofe, é possível escandi-los e dar nomes aos metros da seguinte forma:
Ca/mi/nhan/do /con/tra o /ven/to - Verso Heptassílabo ou Redondilha Maior
Sem /len/ço e /sem /do/cu/men/to - Verso Heptassílabo ou Redondilha Maior 
No /sol /de /qua/se /de/zem/bro, - Verso Heptassílabo ou Redondilha Maior
Eu /vou. – Verso Dissílabo

Metáforas: Toda a opressão sofrida pelo cidadão comum, nas ruas, nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país é relatada na letra desta canção. Desta forma, Alegria, Alegria, denuncia os exageros dos militares, porém utilizando-se de metáforas. “Caminhando contra o vento/sem lenço e sem documento” que se refere à violência praticada pelo regime. Ao dizer “sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do Brasil” revela a precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria pessoas alienadas, e complementa: “O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e preguiça/quem lê tanta notícia?”. 
Para evidenciar a alienação da massa, na letra há elementos externos à cultura nacional, como alguns símbolos impostos pelo cinema norte-americano da época, que são: Cardinales, Brigitte Bardot e a Coca-Cola, fortes representantes da imposição comercial da mídia na época.
Ao denunciar os desníveis sociais dos “anos de chumbo”, Caetano Veloso faz comparações metafóricas, com o intuito de destacar os contrastes regionais, sociais ou econômicos, o que fica evidente nos seguintes versos: “Eu tomo uma coca-cola,/Ela pensa em casamento”, “Em caras de presidente/em grandes beijos de amor/em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot.”
Jogo das pressuposições: Alegria, Alegria, canção que ajudou a criar o estilo musical MPB, escrita, musicada e interpretada pelo cantor e compositor Caetano Veloso (em novembro de 1967) transformou a expressão artística musical brasileira em crítica social. Por esse motivo, Caetano Veloso teve grande parte de suas músicas censuradas pelo regime militar, sendo que algumas foram até banidas. Em 27 de dezembro de 1968, tanto Caetano Veloso quanto Gilberto Gil foram para a cadeia, acusados de terem desrespeitado o hino nacional e a bandeira brasileira. Os dois foram levados para o quartel do Exército de Marechal Deodoro, no Rio, e tiveram suas cabeças raspadas. Entretanto, ambos ficaram exilados em Londres até 1972.

É possível notar também que Alegria, Alegria faz intertextualidade com Para não dizer que não falei das flores, do cantor Geraldo Vandré. Ambas as músicas suscitam em sua letra os sentimentos daqueles tinham conhecimento (não eram alienados) do que de fato acontecia no Brasil e, assim convocam os brasileiros engajados a ir às ruas e lutar contra a ditadura vigente.

Ao convocar a todos para esta luta, fica evidente a crítica à alienação, pois o verso “Ela pensa em casamento” aparece duas vezes na canção, ou seja, evidencia que enquanto algumas brasileiros lutavam para dar fim à repressão militar outros estavam completamente desinformados e sob o domínio do governo.
Rima: Alegria, alegria é uma canção poética, considerando, inclusive, o título. A marcha compassada denuncia a presença do som do “O” precedido da letra “T” e “R”, ao mesmo tempo em que dá o ritmo a cada verso, também reflete a dureza da época e o disparar das armas, que pode ser notado na terminação dos três primeiros versos, da primeira estrofe, além da presença do fonema “K”: “Caminhando contra o vento/ Sem lenço e sem documento / No sol de quase dezembro”. 
As figuras de som predominam, pois o ritmo é constante, quebrado por palavras e/ou expressões como “eu vou”, no final de cada estrofe. A aliteração pode ser notada na repetição de sons consonantais (consonância) quanto de sons vocálicos (assonâncias), como nos versos: “Entre fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fone, sem telefone, no coração do Brasil.”: repetição do som do fonema “F”. Nos versos “Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento, no sol de quase dezembro”, percebe-se a presença do fonema /k/. Também nos versos “entre fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fone, sem telefone, no coração do Brasil”, percebe-se a presença dos sons vocálicos de /em/. O que se repete também nos versos “sem lenço sem documento, no sol de quase dezembro”. 
Conclusão do ponto de vista estilístico: Alegria, Alegria é uma canção que pode ser definida como um poema. Sua história acontece no presente, sendo que o eu – lírico “desenha” a história por meio do pronome EU, 1ª pessoa do singular. No entanto, não tende ao egocentrismo ou narcisismo, apenas posiciona-se como um lutador contra a repressão militar. 
Para provocar a ideia de uma marcha contra a ditadura utiliza-se de fonemas duros que remetem ao marchar dos militares (e até dos civis unidos em direção aos repressores) e fonemas frios que remetem ao som dos tiros e bombas, itens bastante presentes nas ruas, neste período.

Em contrapartida, há também a denúncia da alienação a partir de ídolos impostos e fabricados pela mídia “exterior” (Brigitte Bardot, francesa e Claudia Cardinale, atriz italiana), que infundiam um comportamento novo. 
Texto originalmente escrito em 4 de maio de 2010 - Editora do site cultural www.resenhando.com.
É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm - Por Mary Ellen Farias dos Santos (em janeiro de 2015).




sexta-feira, 6 de setembro de 2019

ESTUDO SOBRE A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


Para responder, use o código seguinte:


a)           Os itens I, II e III estão corretos.

b)           Só o item II é correto.

c)            Só os itens I e III são corretos.

d)           Só os itens I e II são corretos.

e)           Só o item III é correto.


QUESTÃO 1:            D


I – A Revolução Industrial consistiu basicamente na mecanização da indústria; alguns de seus inventos remontam ao século XVI, como o tear mecânico, que, no entanto, não possuía a sofisticação das máquinas criadas no século XVII.


II – A Inglaterra, com seu considerável império colonial e sua supremacia comercial após a Guerra dos Sete Anos, era a principal nação capitalista na segunda metade do século XVIII.


III – A Revolução Industrial, apesar de suas repercussões e de sua influência na formação do capitalismo financeiro, não afetou o setor agrícola, cuja mecanização só ocorreria no século XX, após a Primeira Grande Guerra Mundial (1914 – 1918).


QUESTÃO 2:            A


I – O grande desenvolvimento Industrial do século XIX trouxe para a ordem do dia as reivindicações da classe operária, que exigia melhores condições de vida.


II – Os socialistas científicos previam a classe operária, surgida com a Revolução Industrial, se organizaria em partidos e sindicatos, tomaria o poder e instalaria o Estado Socialista.


III – O Socialismo Científico surgiu nos países mais avançados do sistema internacional, principalmente na Europa Centro-Ocidental, durante a metade do século XIX.


QUESTÃO 3:            D


I – Uma das repercussões mais significativas da Revolução Industrial está representada pelo crescimento demográfico das cidades.


II – O expansionismo econômico inglês – observado no século XIX – determinou o aparecimento da política neocolonislista que, inclusive, apresentou intensas repercussões no Brasil, assumindo o país, no período, caráter de verdadeiro protetorado britânico.


III – Graças à expansão do capitalismo industrial, ocorreu um processo de redistribuição de riquezas provocado pela crescente socialização dos meios de produção.

 

NAS QUESTÕES DE 04 A 06, MARQUE APENAS UMA ALTERNATIVA CORRETA:


04 – A conseqüência social importante da Revolução Industrial foi:


a) O surgimento do operariado fabril.

b) O aparecimento da burguesia.

c) O desenvolvimento das idéias socialistas.

d) O progresso do socialismo utópico.


05 – A Revolução Industrial possibilitou a emergência de uma nova classe social, trata-se:


a)    da burguesia.

b)    do proletariado.

c)    do escravo-capitalista.

d)    dos pequenos proprietários agrícolas.


06 – São características do Capitalismo:


a)    a riqueza de uma nação está na quantidade de metais preciosos que possui.

b)    Imperialismo e nacionalismo econômico.

c)    Empresa privada e competição pelos mercados.

d)    Excesso de matéria-prima.



07 – LEIA:


POVO – Que trabalho você executa na sociedade?

CLASSE PRIVILEGIADA – Nenhum; não fomos feitos para trabalhar.

POVO – Como então você adquiriu sua riqueza?

CLASSE PRIVILEGIADA – Assumimos a tarefa de governar vocês.

POVO – Governar a nós! Nós nos esgotamos e vocês se divertem; nós produzimos e vocês dissipam; a riqueza flui de nós e vocês a absorvem. Homens privilegiados, classe distinta do povo, formem uma nação à parte e governem-se a si mesmos. (VOLNEY. Ruínas. In: THOMPSON, E. A formação da classe operária inglesa.).


            A Revolução Industrial não se limitou a um conjunto de transformações técnicas e tecnológicas aplicadas ao processo de produção de mercadorias. Em uma outra dimensão, de caráter social, proporcionou, entre outras coisas, a formação da classe operária em sua relação com a burguesia, que é a classe proprietária dos meios de produção.


A)           CITE DOIS FATORES QUE POSSIBILITAM A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA INGLATERRA, NO SÉCULO XVIII.


Os principais fatores são: O predomínio da burguesia na condução dos negócios do Estado desde a Revolução Gloriosa; O cercamento dos campos, que permitiu o uso capitalista da terra e deslocou grande contingente de mão-de-obra para as cidades disponível para trabalhar nas fábricas; A acumulação de capital proporcionado pela exploração colonial.



B) EXPLIQUE DE QUE MANEIRA A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL CONTRIBUIU PARA A CONSOLIDAÇÃO DA DIVISÃO ENTRE CAPITAL E TRABALHO.


                        A vitória do sistema de sistema de fábrica, com suas grandes e dispendiosas instalações, ampliou a distância entre o capital e o trabalho.


08 – SOBRE A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, julgue os itens que se seguem apontando “C” para CERTO e “E” para ERRADO e marque em seguida apenas uma alternativa correta.


I – Expansão das ferrovias e crescimento das cidades.

II – Formação de grandes conglomerados e expansão dos mercados.

III – Fortalecimento do mercantilismo.

IV – Defesa do livre-cambismo.

V – Formação do proletariado.


a)    CCEEC

b)    CECEC

c)    CCECC

d)    CCCEC

e)    ECECC

quinta-feira, 30 de agosto de 2018


O NOVO IMPERIALISMO - AS TRANSFORMAÇÕES DO CAPITALISMO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

            A partir de 1848, as lutas sociais, que tinham um caráter ao mesmo tempo democrático e nacional, passaram a excluir o aspecto democrático, para assumir aspectos quase exclusivamente nacionais. As unificações da Itália (1870) e da Alemanha (1871) são as mais claras demonstrações desse novo sentido da história europeia.
            Esse fenômeno, concomitante ao processo de industrialização, permite colocar no mesmo quadro geral a Guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861-1865), a unificação da Itália (1870) e a da Alemanha (1871).
               Relacionar o avanço da industrialização com a unificação dos países.
            É importante se perceber que as transformações no plano econômico se refletem no plano político. E também a idéia de uma totalidade, onde as partes são solidárias. Nos Estados Unidos, os Estados do Norte eram industrializados. Na Itália, era o reino de Piemonte. E, na Alemanha, o reino de Prússia. O desenvolvimento do capitalismo nessas regiões colocava agudamente o problema da unificação nacional, que, no plano econômico, nada mais representava que a unificação do mercado interno. O nacionalismo era, portanto, uma ideologia burguesa que, utilizando a mística da nacionalidade, pretendia, na verdade, o domínio do mercado. Um outro ponto a ser ressaltado é o do processo de unificação, que, nos três casos, ocorreu de forma diferente. Nos Estados Unidos já existia a unificação política, mas não a econômica: o Sul era escravista e o Norte, capitalista; a guerra civil entre os Estados nortistas e os sulistas solucionou o problema. Na Alemanha, através do Zollverein (unificação aduaneira), havia a unidade econômica, mas não a política; o país estava dividido em 36 Estados politicamente independentes. E a Itália estava dividida tanto política como economicamente; os sete Estados que a compunham não possuíam nenhum vínculo econômico mais estreito entre si.
         A emergência de novas potências industriais, por volta de 1870, coincidiu com uma transformação econômica de grande alcance: a Segunda Revolução Industrial. A nova conjuntura se refletiu imediatamente no mundo periférico, com o aparecimento do imperialismo e do neocolonialismo.
            São duas as questões que precisam ser relacionadas: O que caracterizou a Segunda Revolução Industrial e em que consistiu o novo colonialismo?
          A Segunda Revolução Industrial teve por base o aperfeiçoamento da técnica de produção (automatização) e o processo de concentração da produção industrial (monopólio). Como conseqüência da produção em massa e da monopolização dos mercados pelas grandes corporações, ocorreu uma acumulação sem precedentes de capitais. Ao mesmo tempo, a emergência de várias potências industriais assinalava a concorrência na disputa pelo mercado externo. O resultado foi o imperialismo – guerra econômica entre as potências industriais pela apropriação de mercados – e o neocolonialismo. E os territórios visados e partilhados foram a Ásia e a África.

A RESISTÊNCIA AFRICANA

Durante muito tempo, os movimentos de resistência africana à colonização europeia foram pouco divulgados. Prevalecia a falsa ideia de que as comunidades africanas foram subjugadas sem demonstrar nenhuma oposição. Essa situação se modificou nas últimas décadas graças aos estudos historiográficos realizados sobre esse tema.

            “Entre 1880 e 1900, a África tropical apresentava um estranho e brutal paradoxo. Se o processo da conquista e da ocupação pelos europeus era claramente irreversível, também era altamente resistível. Irreversível por causa da revolução tecnológica – pela primeira vez os brancos tinham uma vantagem decisiva nas armas, e, também pela primeira vez, as ferrovias, a telegrafia e o navio a vapor permitiam-lhes oferecer resposta ao problema das comunicações no interior da África e entre a Ásia e a Europa. Resistível devido à força das populações africanas e porque na ocasião a Europa não empregou na batalha recursos muito abundantes nem em homens nem em tecnologia. De fato, os brancos compensavam a escassez de homens recrutando auxiliares africanos. Mas eles não eram manipuladores diabolicamente inteligentes de negros divididos e atrasados. Os europeus estavam apenas retomando o repertório das estratégias dos antigos impérios. Quanto a detalhes, muitas vezes sabiam menos das coisas que os dirigentes africanos. A implementação da estratégia de penetração foi muito desordenada e inábil. Os europeus enfrentaram uma enormidade de movimentos de resistência que provocaram e até inventaram por ignorância e medo. Tinham de ‘obter a vitória final’, e, uma vez obtida, trataram de pôr em ordem o conturbado processo. Escreveram-se livros sobre a chamada ‘pacificação’; tinha-se a impressão de que, na sua maior parte, os africanos haviam aceito a Pax Colonica com reconhecimento e fez-se caso omisso de todos os fatos da resistência africana. Mas a vitória dos europeus não significa que a resistência africana não tenha tido importância no seu tempo ou que não mereça ser estudada agora. E, definitivamente, tem sido objeto de muitos estudos nos últimos vinte anos. [...] Em primeiro lugar, afirmou-se que a resistência africana era importante, já que provava que os africanos nunca se haviam resignado à ‘pacificação’ europeia. Em segundo lugar, sugeriu-se que, longe de ser desesperada ou ilógica, essa resistência era muitas vezes movida por ideologias racionais e inovadoras. Por fim, em terceiro, argumentou-se que os movimentos de resistência não eram insignificantes; pelo contrário, tiveram consequências importantes em seu tempo, e têm, ainda hoje, notável ressonância. ”

RANGER, Terence O. Iniciativas e resistência africanas em face da partilha e da conquista.
In: BOAHEN, A. Adu (coord.). História da África, v. VII. São Paulo: Ática/Unesco, 1991. P.69-70.

a) Quantas vezes aparece no texto a palavra ÁFRICA, AFRICANA(S) e AFRICANOS?
b) Quantas vezes aparece no texto a palavra EUROPA, EUROPEIA e EUROPEUS?
c) Por que se pode dizer que o processo da conquista e da ocupação pelos europeus apresentava um estranho e brutal paradoxo, ao mesmo tempo que era claramente irreversível, também era altamente resistível?
d) Cite pelo menos três argumentos que comprovam que a resistência africana foi importante:

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Análise de Alegria Alegria - Caetano Veloso









Memória discursiva:
A música Alegria, Alegria, de autoria de Caetano Veloso, sobre liberdade, é um dos marcos iniciais do movimento tropicalista da década de 1960.
Datada de 1967, Alegria, Alegria, a canção modernista foi apresentada no Festival da Record em disputa pelo “Berimbau de Ouro”.


Embora seja intitulada de Alegria, Alegria, sua letra nada tem de alegria, apenas reflete a repressão do período militar no Brasil, ou melhor, os “anos de chumbo”.
De tão potente, a música de Caetano Veloso está incorporada na mente e na história do povo brasileiro, pois a marcha leve e alegre, com letra caleidoscópica e libertária, tem força nas palavras que a compõem.


Entretanto, ao apresentá-la ao público, Caetano Veloso recebeu vaias (até porque fez a apresentação com os argentinos, Beat Boys). A gritaria foi tão infernal que nacionalistas o
chamaram de traidor e oportunista. O talento e a performance de Caetano Veloso, aos poucos, ganhou o público e transformou as vaias em aplausos, mas ficou somente com o quarto lugar do festival.


Alegria, Alegria é uma obra famosa e muito lembrada, é, pelo menos a mais emblemática do período militar do Brasil. Por esta e outras canções revolucionárias que usaram da metáfora para burlar o regime militar, Caetano Veloso foi o grande divulgador deste período de grande revolução popular e de tanta inquietação cultural.


Estrutura do texto:
Em sua estrutura textual, Alegria, Alegria é simples, principalmente se comparada a outras de Caetano Veloso, utiliza basicamente elementos do Modernismo Brasileiro, da contra-cultura, da ironia, rebeldia, anarquismo e humor ou terror anárquico.
Para salientar que a cultura importada era alienante, Caetano usa palavras como Brigitte Bardot, Cardinales (Claudia Cardinale) e Coca-Cola (maior símbolo do império norte-americano que financiava os exércitos em toda a América Latina).


Pelo fato de ser uma canção escrita no período tropicalista, Alegria, Alegria tem nas entrelinhas uma
crítica à esquerda intelectualizada, a negação a qualquer forma de censura, uma denúncia da sedução dos meios de comunicação de massa e um retrato direto da realidade urbana e industrial.


De acordo com o poeta, ensaísta, professor e tradutor brasileiro Décio Pignatari, a letra possui uma estrutura cinematográfica, trata-se de uma "letra-câmera-na-mão", citando o mote do Cinema Novo. Nesta canção há intertextualidade com a canção Para não dizer que não falei das flores e com uma pequena citação (modificada) do livro As Palavras, de Jean-Paul Sartre: "nada nos bolsos e nada nas mãos", que ficou, "nada no bolso ou nas mãos".


Marcadores da narrativa e da oralidade:
A presença de muitas vírgulas na canção segue o ritmo da marcha, ou seja, há uma ebulição de ideias e ações acontecendo concomitantemente, por tanto não há abertura para pontos finais (que fecham estas ideias), mas apenas para as vírgulas. As vírgulas passam a ideia de aglutinação, como se representassem a pólvora, tão presente nas ruas neste período.


Inicialmente, o verbo caminhar está no gerúndio, o que transmite a ideia de que este caminhar é contínuo e que nada será capaz de interrompê-lo, mesmo que lhe falte uma identidade e as impunidades dos crimes brasileiros permaneçam. Logo, o verbo está no presente: (eu) vou, (me) enche, (ela) pensa.


Da instância lexical:
Os versos “Caminhando contra o vento” e “em Cardinales bonitas” têm o valor semântico da expressão popular “nadando contra a corrente”, com o significado de ser e manter-se contra. Ao considerar o período, este se refere ao lutar contra a Ditadura Militar.


Eixo paradigmático da canção:
A luta pelos ideais ganha mais força ao colocar cada ação na primeira pessoa do singular: EU, estando este oculto, como em “Caminhando contra o vento”, ou quando este sujeito é simples, como nos últimos versos das estrofes: “Eu vou”. No contexto do momento histórico vivido pelo autor na época do Regime Militar, a expressão “caminhando contra o vento” vem reforçar a idéia central do texto: ser do contra, lutar contra as forças armadas pelo regime
ditatorial, promover a união da população contra o governo imposto de forma indireta e arbitrária. Idéia corroborada pelo descumprimento das regras gramaticais da língua padrão, como no exemplo: “Me enche de alegria...”, em que a frase é iniciada pelo pronome oblíquo ME.


Metáforas: Toda a opressão sofrida pelo cidadão comum, nas ruas, nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país é relatada na letra desta canção. Desta forma, Alegria, Alegria, denuncia os exageros dos militares, porém utilizando-se de metáforas. “Caminhando contra o vento/sem lenço e sem documento” que se refere à violência praticada pelo regime. Ao dizer “sem livros e sem fuzil, / sem fome, sem telefone, no coração do Brasil” revela a precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria pessoas alienadas, e complementa: “O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e preguiça/quem lê tanta notícia? ”.


Para evidenciar a alienação da massa, na letra há elementos externos à cultura nacional, como alguns símbolos impostos pelo cinema norte-americano da época, que são: Cardinales, Brigitte Bardot e a Coca-Cola, fortes representantes da imposição comercial da mídia na época.


Ao denunciar os desníveis sociais dos “anos de chumbo”, Caetano Veloso faz comparações metafóricas, com o intuito de destacar os contrastes regionais, sociais ou econômicos, o que fica evidente nos seguintes versos: “Eu tomo uma coca-cola,/Ela pensa em casamento”, “Em caras de presidente/em grandes beijos de amor/em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot.”


Jogo das pressuposições:
Alegria, Alegria, canção que ajudou a criar o estilo musical MPB, escrita, musicada e interpretada pelo cantor e compositor Caetano Veloso (em novembro de 1967) transformou a expressão artística musical brasileira em crítica social. Por esse motivo, Caetano Veloso teve grande parte de suas músicas censuradas pelo regime militar, sendo que algumas foram até banidas. Em 27 de dezembro de 1968, tanto Caetano Veloso quanto Gilberto Gil foram para a cadeia, acusados de terem desrespeitado o hino nacional e a bandeira brasileira. Os dois foram levados para o quartel do Exército de Marechal Deodoro, no Rio, e tiveram suas cabeças raspadas. Entretanto, ambos ficaram exilados em Londres até 1972.


É possível notar também que Alegria, Alegria faz intertextualidade com “Para não dizer que não falei das flores”, do cantor Geraldo Vandré. Ambas as músicas suscitam em sua letra os sentimentos daqueles tinham conhecimento (não eram alienados) do que de fato acontecia no Brasil e, assim convocam os brasileiros engajados a ir às ruas e lutar contra a ditadura vigente.


Ao convocar a todos para esta luta, fica evidente a crítica à alienação, pois o verso “Ela pensa em casamento” aparece duas vezes na canção, ou seja, evidencia que enquanto alguns brasileiros lutavam para dar fim à repressão militar outros estavam completamente desinformados e sob o domínio do governo.


Rima:
Alegria, Alegria é uma canção poética, considerando, inclusive, o título. A marcha compassada denuncia a presença do som do “O” precedido da letra “T” e “R”, ao mesmo tempo em que dá o ritmo a cada verso, também reflete a dureza da época e o disparar das armas, que pode ser notado na terminação dos três primeiros versos, da primeira estrofe, além da presença do fonema “K”: “Caminhando contra o vento/ Sem lenço e sem documento / No sol de quase dezembro”.


As figuras de som predominam, pois, o ritmo é constante, quebrado por palavras e/ou expressões como “eu vou”, no final de cada estrofe. A aliteração pode ser notada na repetição de sons consonantais (consonância) quanto de sons vocálicos (assonâncias), como nos versos: “Entre fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fone, sem telefone, no coração do Brasil.”: repetição do som do fonema “F”. Nos versos “Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento, no sol de quase dezembro”, percebe-se a presença do fonema /k/. Também nos versos “entre fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fone, sem telefone, no coração do Brasil”, percebe-se a presença dos sons vocálicos de /em/. O que se repete também nos versos “sem lenço sem documento, no sol de quase dezembro”.


Conclusão do ponto de vista estilístico:
Alegria, Alegria é uma canção que pode ser definida como um poema. Sua história acontece no presente, sendo que o eu – lírico “desenha” a história por meio do pronome EU, 1ª pessoa do singular. No entanto, não tende ao egocentrismo ou narcisismo, apenas posiciona-se como um lutador contra a
repressão militar.


Para provocar a ideia de uma marcha contra a ditadura utiliza-se de fonemas duros que remetem ao marchar dos militares (e até dos civis unidos em direção aos repressores) e fonemas frios que remetem ao som dos tiros e bombas, itens bastante presentes nas ruas, neste período.


Em contrapartida, há também a denúncia da alienação a partir de ídolos impostos e fabricados pela mídia “exterior” (Brigitte Bardot, francesa e Claudia Cardinale, atriz italiana), que infundiam um comportamento novo.



Texto originalmente escrito em 4 de maio de 2010 - Editora do site cultural www.resenhando.com.
É jornalista, professora e roteirista. Twitter: @maryellenfsm - Por Mary Ellen Farias dos Santos (em janeiro de 2015).