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quinta-feira, 30 de agosto de 2018


O NOVO IMPERIALISMO - AS TRANSFORMAÇÕES DO CAPITALISMO NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

            A partir de 1848, as lutas sociais, que tinham um caráter ao mesmo tempo democrático e nacional, passaram a excluir o aspecto democrático, para assumir aspectos quase exclusivamente nacionais. As unificações da Itália (1870) e da Alemanha (1871) são as mais claras demonstrações desse novo sentido da história europeia.
            Esse fenômeno, concomitante ao processo de industrialização, permite colocar no mesmo quadro geral a Guerra de Secessão nos Estados Unidos (1861-1865), a unificação da Itália (1870) e a da Alemanha (1871).
               Relacionar o avanço da industrialização com a unificação dos países.
            É importante se perceber que as transformações no plano econômico se refletem no plano político. E também a idéia de uma totalidade, onde as partes são solidárias. Nos Estados Unidos, os Estados do Norte eram industrializados. Na Itália, era o reino de Piemonte. E, na Alemanha, o reino de Prússia. O desenvolvimento do capitalismo nessas regiões colocava agudamente o problema da unificação nacional, que, no plano econômico, nada mais representava que a unificação do mercado interno. O nacionalismo era, portanto, uma ideologia burguesa que, utilizando a mística da nacionalidade, pretendia, na verdade, o domínio do mercado. Um outro ponto a ser ressaltado é o do processo de unificação, que, nos três casos, ocorreu de forma diferente. Nos Estados Unidos já existia a unificação política, mas não a econômica: o Sul era escravista e o Norte, capitalista; a guerra civil entre os Estados nortistas e os sulistas solucionou o problema. Na Alemanha, através do Zollverein (unificação aduaneira), havia a unidade econômica, mas não a política; o país estava dividido em 36 Estados politicamente independentes. E a Itália estava dividida tanto política como economicamente; os sete Estados que a compunham não possuíam nenhum vínculo econômico mais estreito entre si.
         A emergência de novas potências industriais, por volta de 1870, coincidiu com uma transformação econômica de grande alcance: a Segunda Revolução Industrial. A nova conjuntura se refletiu imediatamente no mundo periférico, com o aparecimento do imperialismo e do neocolonialismo.
            São duas as questões que precisam ser relacionadas: O que caracterizou a Segunda Revolução Industrial e em que consistiu o novo colonialismo?
          A Segunda Revolução Industrial teve por base o aperfeiçoamento da técnica de produção (automatização) e o processo de concentração da produção industrial (monopólio). Como conseqüência da produção em massa e da monopolização dos mercados pelas grandes corporações, ocorreu uma acumulação sem precedentes de capitais. Ao mesmo tempo, a emergência de várias potências industriais assinalava a concorrência na disputa pelo mercado externo. O resultado foi o imperialismo – guerra econômica entre as potências industriais pela apropriação de mercados – e o neocolonialismo. E os territórios visados e partilhados foram a Ásia e a África.

A RESISTÊNCIA AFRICANA

Durante muito tempo, os movimentos de resistência africana à colonização europeia foram pouco divulgados. Prevalecia a falsa ideia de que as comunidades africanas foram subjugadas sem demonstrar nenhuma oposição. Essa situação se modificou nas últimas décadas graças aos estudos historiográficos realizados sobre esse tema.

            “Entre 1880 e 1900, a África tropical apresentava um estranho e brutal paradoxo. Se o processo da conquista e da ocupação pelos europeus era claramente irreversível, também era altamente resistível. Irreversível por causa da revolução tecnológica – pela primeira vez os brancos tinham uma vantagem decisiva nas armas, e, também pela primeira vez, as ferrovias, a telegrafia e o navio a vapor permitiam-lhes oferecer resposta ao problema das comunicações no interior da África e entre a Ásia e a Europa. Resistível devido à força das populações africanas e porque na ocasião a Europa não empregou na batalha recursos muito abundantes nem em homens nem em tecnologia. De fato, os brancos compensavam a escassez de homens recrutando auxiliares africanos. Mas eles não eram manipuladores diabolicamente inteligentes de negros divididos e atrasados. Os europeus estavam apenas retomando o repertório das estratégias dos antigos impérios. Quanto a detalhes, muitas vezes sabiam menos das coisas que os dirigentes africanos. A implementação da estratégia de penetração foi muito desordenada e inábil. Os europeus enfrentaram uma enormidade de movimentos de resistência que provocaram e até inventaram por ignorância e medo. Tinham de ‘obter a vitória final’, e, uma vez obtida, trataram de pôr em ordem o conturbado processo. Escreveram-se livros sobre a chamada ‘pacificação’; tinha-se a impressão de que, na sua maior parte, os africanos haviam aceito a Pax Colonica com reconhecimento e fez-se caso omisso de todos os fatos da resistência africana. Mas a vitória dos europeus não significa que a resistência africana não tenha tido importância no seu tempo ou que não mereça ser estudada agora. E, definitivamente, tem sido objeto de muitos estudos nos últimos vinte anos. [...] Em primeiro lugar, afirmou-se que a resistência africana era importante, já que provava que os africanos nunca se haviam resignado à ‘pacificação’ europeia. Em segundo lugar, sugeriu-se que, longe de ser desesperada ou ilógica, essa resistência era muitas vezes movida por ideologias racionais e inovadoras. Por fim, em terceiro, argumentou-se que os movimentos de resistência não eram insignificantes; pelo contrário, tiveram consequências importantes em seu tempo, e têm, ainda hoje, notável ressonância. ”

RANGER, Terence O. Iniciativas e resistência africanas em face da partilha e da conquista.
In: BOAHEN, A. Adu (coord.). História da África, v. VII. São Paulo: Ática/Unesco, 1991. P.69-70.

a) Quantas vezes aparece no texto a palavra ÁFRICA, AFRICANA(S) e AFRICANOS?
b) Quantas vezes aparece no texto a palavra EUROPA, EUROPEIA e EUROPEUS?
c) Por que se pode dizer que o processo da conquista e da ocupação pelos europeus apresentava um estranho e brutal paradoxo, ao mesmo tempo que era claramente irreversível, também era altamente resistível?
d) Cite pelo menos três argumentos que comprovam que a resistência africana foi importante: